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'Virei cam girl em um momento de desespero, mas me descobri outra'

  • elasnatela
  • 24 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura

Por Nicole Bonentti


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Cam girl é o nome dado a mulheres que trabalham em sites de chat adulto. Crédito: Nicole Bonentti


Para muitas mulheres, o término de um relacionamento abusivo pode significar renascimento. Enfim, livre, é hora de enfrentar um novo momento, como um novo dia. Não por acaso, a personagem principal desta história se identifica como Aurora e se descobriu outra pessoa trabalhando no mercado do sexo.


Atualmente com 24 anos, a jovem começou a trabalhar aos 18 no site Câmera Privê – plataforma de chat adulto -, após o término de um relacionamento abusivo e foi através do trabalho como cam girl que se descobriu uma nova mulher.


Segundo Aurora, a entrada no mundo de sex worker (profissão que envolve o sexo) foi em um “momento desesperado”, que reuniu dois fatores envolvendo o ex-namorado: a demissão dela do antigo emprego por conta de uma briga causada por ele, por ciúme; e a descoberta de uma série de dividas no cartão de crédito, feita também pelo ex-companheiro. Após o término, haviam dívidas e a faculdade a ser paga, foi o momento em que Aurora embarcou na profissão.


“Nesses anos trabalhando com isso conheci muitas meninas do meio e descobri que esse fator é comum, elas começarem como sex worker por terem saído de um relacionamento abusivo e precisarem se reerguer de alguma forma”, afirma Aurora.


A jovem novamente retoma a expressão “momento desesperado” e me conta que acredita que o destaque seja importante, pois além dos fatores mencionados anteriormente, haviam outros. “Apesar de não ser mais virgem, eu não tinha desenvolvido minha sexualidade. O relacionamento que eu vivia era abusivo e sexo para mim não era bom, era algo que eu fazia por obrigação. Eu não vivia minha sexualidade, não sabia o que era me masturbar ou gozar”, desabafa.


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Segundo Aurora, muitas mulheres começam a trabalhar como sex workers após um relacionamento abusivo. Crédito: Nicole Bonentti


“O camming me ajudou na questão da descoberta com a minha sexualidade porque eu tive que me acostumar à minha nudez, aprender a como me masturbar, abrir mão dos meus preconceitos...ele acaba sendo uma forma de descoberta sexual para muitas mulheres que se sentem coagidas a não usufruir dela por conta da nossa sociedade patriarcal”, diz.


Aurora também me conta que virava madrugadas no site e que, durante o dia, procurava outros trabalhos que pudessem ajudá-la a quitar as dívidas. Após o primeiro mês, ela percebeu que o trabalho na plataforma adulta havia trazido bons resultados e resolveu continuar. “Consegui começar a pagar as dívidas e isso me deixou animada, e eu resolvi que iria continuar até ter pago todas as dívidas que eu tinha. Junto com meu começo no site fui me descobrindo e descobrindo fetiches”, narra.


Após alguns meses, as dívidas finalmente estavam pagas, mas Aurora percebeu que não queria parar. Em pouco tempo, ela desenvolveu uma boa relação com o corpo e a autoestima só aumentava. “Paguei todas as dívidas que eu tinha e peguei gosto pela coisa, porque querendo ou não, você está ali com alguém frequentemente te elogiando, mexe com o ego. Depois que as dívidas acabaram eu comecei a juntar uma grana para mim, comecei a gastar dinheiro com o que eu queria”, relembra.


Quando conseguiu um emprego registrado, Aurora deixou o site. Ela conta que o endereço on-line, ao longo dos anos, foi para ela uma opção quando a necessidade batia à porta, mas que este ano, com a pandemia, ela precisou se dedicar novamente ao camming.


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Aurora conquistou, com a ajuda do camming, sua independência financeira e sexual. Crédito: Nicole Bonentti


“Na pandemia houve um ‘bum’ no ramo de sex worker. Eu nunca vi tanta menina trabalhando com isso durante todo o tempo que tenho contato. Eram muitas, para nem tantos clientes. Provavelmente porque as pessoas também não estavam mais podendo se dar ao luxo de gastar com esse tipo de coisa”, conta.


Aurora então decidiu partir para a produção de conteúdo. Entrou em grupos de assinatura, tirou fotos, fez vídeos e iniciou a venda particular, mas, depois um tempo, percebeu que já não tinha paciência para conquistar os clientes e preferia quando eles a procuravam, como no camming, foi quando uma amiga do meio a ajudou a entrar em sites internacionais, para ganhar em dólar.


Hoje em dia, namorando e trabalhando, ela mantém a carreira de sex worker, em mais de um site e com encomendas de conteúdo. Claramente em um ponto muito distante do de partida, Aurora é uma nova mulher, mas diz que não pretende continuar com o camming para sempre. “Estou voltando a trabalhar presencialmente, mas mantenho meu trabalho como sex worker, por mais que seja muito cansativo. Não quero viver com isso o resto da minha vida, mas aceito que é o meu trampo hoje e me dá grana”, finaliza.


Por dentro das expressões


Câmera Privê: site adulto de chat em que mulheres e homens podem conversar e pagar por salas privadas, com conteúdo sexualmente explícito. Assistir aos "shows" (maneira como o site descreve a transmissão) é gratuito, porém na plataforma existem opções pagas, em que se é possível conversar particularmente com a(o) modelo e ter acesso a fotos e vídeos.


Camming: é o nome da prática do trabalho com sites de transmissão de vídeos em que modelos se exibem pela webcam em salas de chat.


Cam girl: é a nomeação de mulheres que trabalham com o camming (já os homens são chamados 'cam boys').


Sex Worker: um trabalhador ou trabalhadora do sexo é alguém que tira sua renda da indústria do sexo.


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