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Ocupando espaços: mulheres na arte

  • elasnatela
  • 17 de nov. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 23 de nov. de 2020

Por Karina Xavier


Paredes de concreto ganham cor e mensagens, latas de spray se tornam ferramentas de comunicação e a cidade, cada vez mais, exibe a arte urbana em seus cenários: estamos falando sobre o grafite, manifestação artística presente no Brasil desde 1970, e que teve início através da necessidade de expressão da população em seus diversos contextos históricos.

Desenhos em cavernas e simbologias encontrados provam que há milhões de anos estamos à procura de formas de transmitir mensagens. Hoje, porém, muitas pessoas definem os desenhos ao ar livre como “sujeiras” e ainda os confundem com vandalismo. Enquanto outras encontraram na arte urbana um trabalho, e até mesmo, uma forma de empoderamento feminino.

Deisy Siqueira, pedagoga e artista, ingressou na cena artística em 2017, através de uma oficina que ganhou em um sorteio, e hoje, fomenta o movimento do grafite na cidade de Sorocaba através da organização de eventos, priorizando a participação feminina e incentivando artistas que estão começando.


Em suas artes, ela costuma deixar mensagens feministas e de reflexão. “Está crescendo agora o número de meninas aqui no interior, algumas me procuram e eu dou todo o incentivo possível. Percebo que as meninas se procuram entre si, acho que é também por uma questão de segurança. A gente acaba se unindo, até sem pretensão de ingressar na cena.”, explica Deisy.

Deisy, além de grafitar, também personaliza latas de spray acabadas para dar um novo significado a elas. Crédito: Karina Xavier


A artista ressalta as dificuldades que enfrenta por ser uma mulher na arte urbana: “Quando estamos fazendo o grafite, ficamos expostas, ficamos contra a rua, olhando para a parede, então nos vemos em um ambiente que não é seguro para gente.”, lamenta. Essas dificuldades tornam-se inspiração para a artista, que transparece o desejo pelo protagonismo feminino nos muros em que desenha.

Deisy busca transmitir mensagens e reflexões acerca do protagonismo feminino. Crédito: Karina Xavier


Além de transmitir mensagens e reflexões, o grafite também serve de base para outros caminhos artísticos. Foi o caso da tatuadora e graduanda em artes visuais, Luisa Viana, que começou a desenhar já na infância, e através do apoio da família e dos amigos, hoje tatua em um estúdio na cidade de Votorantim: “O apoio foi determinante para eu me tornar artista, meus amigos e minha família me mostraram que eu poderia ingressar e representar. Foi absurdo. A galera valorizava mais meu trabalho do que eu mesma.”, declara.

A tatuadora relembra que foi seu pai quem conseguiu seu primeiro trabalho em um estúdio dentro de uma barbearia, e ressalta a importância do apoio que teve: “As pessoas começaram a valorizar minha arte e eu comecei também, e assim passei a me considerar, de fato, uma artista”.


“Quando eu comecei me apoiaram, tinha amigos que me deixaram acompanhar seus trabalhos, e hoje em dia eu posso ser esse apoio para outras pessoas. Incentivo sempre as meninas que me procuram, lembro que podem contar comigo”, completa.

Luisa possui maior afinidade com as letras, e usou seu talento para personalizar a sala do estúdio em que trabalha. Crédito: Karina Xavier


Hoje, Luisa possui maior afinidade com as letras, e usou seu talento para personalizar a sala do estúdio em que trabalha. Apesar de estar inserida no mercado de trabalho, ela destaca as dificuldades que enfrenta: “O desrespeito e a desvalorização do trabalho é algo presente no caminho de quem escolhe ser artista. É difícil, precisamos aprender a lidar e superar. Como a cena tem crescido, cresce também a representatividade e o número de pessoas exigindo respeito, isso ajuda.” esclarece.


“Há também o fato de ser interior, mas o lado bom é que temos contato com todos os artistas da região, pois são acessíveis. Claro que falta diversidade e oportunidade, como é possível encontrar em São Paulo, por exemplo. Mas acredito que para crescer em outro lugar, é preciso crescer onde você está primeiro.”, completa.

Luisa desenha desde a infância, e hoje possui seu próprio espaço para tatuar em um estúdio localizado em Votorantim, interior de São Paulo. Crédito: Karina Xavier


Assim como Luisa, Clara Lua, pedagoga e artista, também iniciou nos muros e adquiriu confiança para tatuar. Sempre visando comunicar reflexões que possam chegar ao maior número de pessoas possível, a tatuadora destaca a importância da influência de outros artistas em sua carreira: “O fator determinante para me tornar artista foi consumir arte, ter forte influência da minha mãe que é artista e outros artistas que me ajudaram e ajudam até hoje. Uma corrente artística”, explica.

Clara carrega forte influência de artistas, inclusive de sua mãe. Hoje, ela passa para sua filha tudo que aprendeu até hoje na cena artística. Crédito: Karina Xavier


Durante entrevista, Clara estava com sua filha Maria, de apenas 5 anos, que constantemente elogiava a arte que a mãe estava produzindo “Mamãe, está mais linda do que nunca!” dizia. Maria também grafitou pela primeira vez com o auxílio de Clara, e a escolha foi seu apelido “Mah”.

Durante entrevista, Clara auxiliou Maria em seu primeiro grafite. Crédito: Karina Xavier


Clara ressalta que o machismo ainda é presente na cena artística, consequência de uma participação majoritariamente masculina: “Acho que a dificuldade de ser uma mulher artista é a grande quantidade de tarefas que precisamos assumir, não sobrando tempo ou espaço para desenvolver arte, e enfrentamos uma insegurança de estar em meio a apenas homens no ambiente artístico, pois o sexismo ainda existe, então muitos homens desacreditam no nosso trabalho.” relata.


A artista destaca também a falta de valorização do trabalho de artistas independentes: “As pessoas passaram a respeitar mais a arte da burguesia, as artes periféricas seguem sofrendo preconceito, os "pequenos" artistas (aqui uso o termo “pequenos” por não serem reconhecidos pela mídia) ainda são desvalorizados. É comum ver a valorização de artistas como Romero Britto, por exemplo.”, exemplifica.

Clara Lua grafitando durante entrevista, em Votorantim, interior de São Paulo. Crédito: Karina Xavier


Clara dividiu o muro do seu bairro com Deka Costa, artista visual que iniciou no grafite em 2019. “Meu primeiro trabalho de graffiti foi em agosto de 2019. Há pouco mais de um ano. Antes disso, eu só fazia aulas de aquarela. Sempre tive vontade de desenhar, mas de alguma forma eu achava que "não era pra mim". Ainda bem que mudei esse pensamento. A arte é pra todo mundo!” comemora.


A artista encontrou nas tintas e nos muros, uma maneira de desabafar a dor de ter vivenciado um episódio de racismo, e representa em seus grafites a mulher negra:


“Eu costumo dizer que a arte me salvou. Eu comecei a pintar depois de viver um episódio de racismo no meu trabalho que me causou muita dor emocional na época. Pintar foi a forma que eu encontrei para dissipar esse sentimento de invisibilidade. E aí, passei a pintar uma personagem negra com mensagens de amor e empoderamento pra todas as pessoas que se identificam e que precisam de força.”

Deka Costa representa em suas artes a representatividade negra. Crédito: Karina Xavier


A rede de apoio entre mulheres envolvidas na cena artística do interior é algo que existe e se fortalece dia após dia. Durante entrevista, Clara e Deka se revezavam para segurar a escada uma para a outra, dividiram seus sprays e tintas, além de darem atenção à Maria, que já na infância demonstra imenso interesse pelo mundo artístico.

“A sociedade é formada e preparada para os homens, em todos os aspectos, e na arte não é diferente. As dificuldades são as mesmas que em qualquer outro espaço: conciliar tudo, lidar com o machismo, com a falta de espaço e com a sensação de que você precisa fazer duas vezes mais para ser respeitada. Porém, ver cada vez mais mulheres na cena é super gratificante!”, enfatiza Deka.

Clara e Deka dividiram muro em Votorantim, interior de São Paulo. Crédito: Karina Xavier

Quando se trata de arte independente, todo apoio de quem se identifica faz diferença. Acompanhe e compartilhe o trabalho dessas mulheres que fazem a arte urbana acontecer no interior: @_dekacosta, @clara.lua, @af.dsy e @luuty, no Instagram!

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