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Erótica

  • elasnatela
  • 17 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Por Isabela Dantas


As rugas eram aparentes. Aquele rosto não era mais liso como antes, quando se tinha trinta e poucos anos. Os cabelos eram compridos, passavam do ombro, pretos, tingidos, é claro, pois com a idade que se tinha os fios brancos já nasciam naturalmente.


Sua roupa favorita era um vestido vermelho, que realçava as pernas e combinava com o batom. Já tinha seus 60 anos, mas para ela, de que importava a idade? Seu coração e sua alma eram jovens, e isso bastava!


Tão decidida e confiante de si, Carmem era cheia de... solidão! O marido morreu 20 anos depois do casamento, deixando-a sozinha. Não tinham filhos, e o que restou era uma vida pacata, cheia de tristezas, afinal, não havia um dia em que ela não se lembrasse dele. Seu refúgio era a vaidade, a beleza.


Carmem gostava de se arrumar, de se sentir bonita, dizia que além de ser bonita por dentro, também tinha que estar bonita por fora.


Certo dia, andando pela rua, Carmem encontrou sua amiga que não via há muito tempo. Maria Lúcia, sendo uma daquelas amigas que gostam de dar palpite, disse que Carmem parecia um tanto quanto obscena com aquelas roupas, que aquilo não combinava com a idade dela e a deixava de certa forma erótica, vulgar. Quando ficou sabendo que a amiga frequentava os bailes grandes, falou mais ainda!


“Onde já se viu, viúva, vestidinho vermelho, procurando sarna pra se coçar, cria vergonha Carmem, vai fazer tricô que você ganha mais!”.


Este encontro repentino deixou Carmem pensativa. Ela, erótica? Vulgar? Obscena? Ela não era isso, simplesmente era bonita, e se sentia assim. Só porque tinha seus 60, deveria usar aqueles vestidos, compridos e floridos, que toda avó usa? Que tempos são esses!


Nós somos o que queremos ser, e apesar de tudo, ela se amava e acreditava nisso. Carmen continuou frequentando os bailes, e a cada saída conquistava alguém, sabendo que eles se apaixonavam, não por ela ser “erótica”, como dizia Maria Lúcia, mas sim pelo o que ela era, pela sua beleza interior que transbordava para fora, afinal de contas era a única coisa que ela dizia ter.

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